quinta-feira, 2 de junho de 2011

Trabalho

O Mundo dos anos 90 é um espaço em transição. Isto porque, apesar do modo de produção capitalista ainda ser a forma de organização da produção material, e por conseqüência, de uma determinada organização do trabalho, passa por uma nova fase de acumulação.
Rosa Luxemburgo, sob o ponto de vista da análise marxista, já apontava algumas reflexões acerca da expansão do capitalismo pelo mundo. Analisando a fase imperialista do capitalismo, mas ainda com um formato nacionalista, ela já chamava a atenção para a necessidade do capital expandir-se por zonas territoriais onde o modo de produção capitalista ainda não era hegemônico. Isto significa que, para a manutenção da acumulação capitalista nos países industrializados, o capital das empresas nacionais precisava de mercados onde pudesse explorar as matérias-primas e a mão de obra baratas, ao mesmo tempo em que vendia seus produtos.
 No caso brasileiro, a dependência econômica  já era perceptível no período agrário-exportador, quando dependia do mercado externo, consumidor de seus produtos primários e fornecedor dos produtos industrializados, configurando-se a análise de Luxemburgo.
Hoje em dia, com o processo de globalização, onde os capitais perderam sua nacionalidade e tornaram-se voláteis como uma nuvem de chuva, que a qualquer momento pode ser levada para outro lugar por um vento forte, a dependência econômica tornou-se um pesadelo.
Em primeiro lugar, porque o desenvolvimento industrial brasileiro é frágil em dois sentidos. De um lado, porque os investimentos em pesquisa tecnológica não acompanham nem de perto o que se faz em países como os EUA e alguns países da Europa, deixando a industria brasileira dependente deste mercado. Vale ressaltar que a pesquisa desenvolvida no Brasil encontra-se no seio das universidades públicas que passam por sérias dificuldades de financiamento. [2]
 Por outro lado, o sistema  financeiro que impulsiona a renovação tecnológica de nossas indústrias não possui cabedal que lhe impute auto-suficiência. [3] Esta fragilidade coloca o desenvolvimento industrial brasileiro sobre pés de barro.
Em segundo lugar, vale lembrar que o país em alguns setores continua sendo agrário exportador. Portanto, continua vendendo barato seus produtos primários e comprando tecnologia e buscando financiamentos, que são os insumos mais caros do mercado.
A análise de Rosa Luxemburgo nos permite construir o argumento que coloca o Brasil ainda como um dos territórios que mantém a expansão capitalista, agora não mais personificados pelos países industrializados do início do século vinte, mas por entidades que extrapolam sua nacionalidade original e se manifestam no mercado financeiro mundial. A identidade das empresas transnacionais já não é relevante, mas sim o sistema que permite sua existência e seu poder que se estende acima dos Estados nacionais.
Estes aspectos, talvez um tanto simplificados, apontam para a conseqüência óbvia: o déficit da balança comercial e a dependência econômica do Brasil em relação ao mercado estrangeiro, bem como a impotência do Estado brasileiro diante do poder do mercado financeiro sobre a vida econômica deste e de outros países indiscriminadamente.
Envolvidas por este ambiente econômico temos as relações de trabalho no Brasil. Torna-se uma tarefa difícil a compreensão das relações de trabalho em qualquer país sem as considerações sobre o que acontece no restante do mundo. As ilusões em contrário se desfazem a todo instante, quando novas notícias aparecem nos jornais e telejornais das emissoras de televisão.
Se os valores da bolsa de Tóquio ou Hong Kong caem, o restante do mundo fica à mercê destes eventos. Os capitais passam a fugir das zonas de risco como o Brasil, acabando por forçar o governo a tomar precauções para que o país não fique desestabilizado.  Os juros sobem para estimular as aplicações no país, manter a cotação do real, ao mesmo tempo, desestimulam novos investimentos na produção, consumidores à consumir e o mercado de trabalho se retrai.
Falar em relações de trabalho é falar necessariamente na relação emprego x desemprego.
Em primeiro lugar, porque a globalização torna as relações semelhantes em todos os cantos do mundo. Os fenômenos sociais desenvolvem-se de maneira similar nos países desenvolvidos ou subdesenvolvidos, diferenciando-se apenas no grau de sofrimento, miséria e distanciamento das classes sociais.
Em segundo lugar, o mundo vê o homem ser substituído pela máquina no processo produtivo e o desemprego crescer de forma alarmante ao mesmo tempo em que os bolsões de miséria alargam-se.
A conclusão para este fenômeno é simples: o sistema capitalista tornou as relações entre os homens relações entre coisas, o chamado processo de reificação [4] . As leis que governam as relações entre os seres reificados são as leis do mercado. Neste troca-se objetos e força de trabalho. Se a máquina substitui a força de trabalho humana, os indivíduos que só possuem força de trabalho para trocar não tem mais o que oferecer. Estão excluídos do processo produtivo e do consumo dos produtos. Passam a fazer parte dos bolsões de miséria, sendo sua existência descartável.

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